sexta-feira, setembro 30, 2005

Actuação do Grupo Ekvat

Foto de grupo numa actuação em Londres

Hoje, pelas 18.30h o grupo musical Ekvat irá actuar na FNAC Colombo. Se puderem não percam este actuação que revive a musicalidade de Goa, a nossa jóia do Oriente.

quinta-feira, setembro 29, 2005

Leda e o Cisne

Óleo de Vieira Portuense, 1798, Museu Nacional de Arte Antiga

Pintor Português, Francisco Vieira (conhecido como Vieira Portuense -1765-1705) assinala este ano dois séculos sobre o seu desaparecimento. Haverá certamente lugar neste blog para uma pequena homenagem a este pintor do Porto, que numa curta existência pintou quadros com uma estética incrível. Leda era casada com Tindáreo, rei dos Espartanos. Mas Leda era tão bela que o próprio Zeus se perdeu de amores por ela (desculpem a rima).
Peter Paul Rubens 1577-1640: Leda e o Cisne. Gemäldegalerie Alte Meister, Dresden.
Leda e o Cisne. Óleo sobre tela de Leonardo da Vinci (1452-1519). Datado de 1503/1504 (cópia — o original não existe mais). Roma, Galleria Borghese.
Leda (Correggio, 1531/1532) - Berlim, Gemäldegalerie
Leda e o Cisne, Quinta da Regaleira, Gruta de Leda
Sendo uma relação impossível Zeus assumiu a forma de um belo Cisne e aproximou-se da sedutora mulher. É possível observar-se na obra de Vieira Portuense a luz que envolve Leda, tornando-a quase divina. Alguns cupidos apontam setas de amor a Leda para que o amor seja correspondido. Outros, estendem um cenário que os oculta de olhares alheios mas um pano côr de sangue, por ser um amor proibído. Leda acaba por cair nos encantos do cisne e engravida. Mas nessa mesma noite, Leda faz amor com o seu marido, mortal.
Para surpresa de todos, Leda depois do período de gestação coloca dois ovos! Um ovo correspondente à relação com Zeus, donde nasce Pólux e Helena (a de Tróia), outro relativo à união com Tindáreo, donde surgem Cástor e Clitemnestra. Aqueles imortais, estes condenados ao fim de todos nós. Desde pequenos, Cástor e Pólux, conhecidos como Dioscuros, provaram ser hábeis nas armas e nos cavalos, enfrentando inumeras batalhas lado-a-lado. Numa batalha contra as tropas da Mesénia, Castor é ferido mortalmente. Pólux, incontrolável na sua perda, obtém um favor de seu pai. Pólux pede-lhe que Cástor o possa visitar um dia no Olimpo e que lhe permita no dia seguinte uma visita no Hades.
Cástor e Pólux, escultura em mármore
Os gémeos foram, então, identificados como simbolo de amizade e cooperação e deram o nome a uma das constelações dos nossos céus e, consequentemente, a um dos signos... o meu.
São geralmente representados como jovens de grande beleza, normalmente nús, ostentando um elmo em forma de meia casca (em representação do seu nascimento) e com uma estrela que lembra a constelação de Gémeos.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Da origem de Ganesha


Escrevo hoje sobre o mais popular dos deuses hindús!

Por todo o lado se vêem t-shirts, malas de senhora, brincos e demais bijuteria com a imagem do deus elefante como alguns lhe chamam.

Mas quem é Ganesha? Porque é que tem aspecto (ou cabeça!) de elefante?!

Num tempo que é indefinivel pois a religião na Índia prende-se na eternidade, certos heróis alcançavam pelos seus feitos a qualidade de deuses: quer pelo poder sobrenatural, quer pelo exemplo que constituíam para os outros em virtudes e cumprimento do dharma (dever religioso).

Pois conta-se que Shiva (aquele deus que todos acham que é uma mulher e que costuma ser representado com a roda de fogo e vários braços) não queria ter filhos. Estava casado com Parvati mas passava muito tempo fora nas suas caçadas. Shiva teve de ausentar-se durante muito tempo pois era a época de caça e Parvati ficou sozinha no vale perto da montanha sagrada.

Parvati sentia-se sozinha. Precisava de uma companhia durante a ausência do seu amado Shiva.
Certo dia, enquanto se banhava no riacho que corria no sopé da montanha, configurou, com os óleos sagrados com que se banhava, um pequeno rapaz... seu filho.

Chamou-lhe Ganesha e pediu-lhe que guardasse a porta enquanto ela terminava o seu banho. Ganesh esperava à porta da casa de seus pais quando se aproxima um estranho armado com um arco, uma flecha e uma espada. Pediu-lhe que se afastasse da porta. Ganesha recusou pois não reconheceu o seu pai. Shiva, irritado, cortou a cabeça ao infante, que rolou pela terra até se perder de vista.

Parvati chegava do banho. Ao perceber o que tinha sucedido, chorou desesperada a perda e a crueldade de Shiva. Este, arrependido, mandou que procurassem a cabeça do garoto inanimado. Em vão... ninguém a encontrou. Shiva mandou então que procurassem pelo mundo e pediu a cabeça do primeiro animal que encontrassem a dormir virado para Norte.

Os seus seguidores trouxeram-lhe a cabeça de um elefante e Shiva, unindo o corpo do rapaz e a cabeça do animal soprou-lhe vida e viveu Ganesha.

Ganesha é hoje na India o protector dos estudantes.
Antes de qualquer exame todos eles pedem proteção com a seguinte oração: Sri Ganeshaya Namah! (Excelente Ganesha eu te saúdo)

Just to know!!!

terça-feira, setembro 27, 2005

Clarice Lispector



Poema Genial

Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
ainda te quero como sempre quis.
Tenho a certeza que
nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
não significas nada.
Não poderia dizer jamais que
alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

(Clarice Lispector)

Ler agora as estrofes no sentido inverso:

É tarde demais...
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
EU TE AMO!
E jamais usarei a frase
já te esqueci!
Sinto cada vez mais que
alimento um grande amor.
Não poderia dizer jamais que
não significas nada.
Sinto dentro de mim que
nada foi em vão.
Tenho a certeza que
ainda te quero como sempre quis.
Estarei mentindo dizendo que
Não te amo mais.

(Clarice Lispector)

A lenda sobre o aparecimento da ordem coríntia


O seu aparecimento


Todos nos lembramos de ter estudado no secundário as três ordens clássicas - a dórica, a jónica e a coríntia -, e as duas posteriores, ditas compósita e toscana. Nada de novo, senão querer chamar a atenção para a ordem coríntia. A sua utilização na arte é atribuída a Kallímacos no séc. IV a.c. mas a lenda que está na origem desta descoberta é bem digna de ser conhecida:


Ora reza a lenda que uma bela jovem tinha sido enterrada num campo aberto. O seu pai, Kallimacos, visitava-a frequentemente chorando a sua perda e levava-lhe flores. Deixou, certo dia, uma cesta coberta de telhas sobre o túmulo e partiu. Pela Primavera, chegando ao local, encontrou a cesta rodeada de folhas de acanto. Estas, encontrando as telhas como obstáculo, dobravam-se nas pontas, formando voluptas incompletas.

Kallimacos, terá ido buscar inspiração a este motivo e inventou o capitel coríntio.

Obviamente, trata-se de uma lenda, não reclamo qualquer veracidade mas não deixa de ser uma história interessante. A contradizê-la está o facto de no Egipto serem encontrados motivos decorativos com folhas de acanto que datam de períodos anteriores a esta lenda.

Ovídio descreve Helena vestida com folhas de acanto. Apolo transformou a sua paixão numa planta de acanto...

Esta planta tornou-se o símbolo das Belas Artes, representando o tríunfo face a adversidades.

segunda-feira, setembro 26, 2005

Salomé

Salomé, 1874 - Moreau

Em primeiro lugar queria pedir desculpa por este sono breve...
Volto hoje a postar sobre Salomé num magnifico poema de Eugénio de Castro que não encontrei nunca na Web.

É singular a forma como nos deslocamos pelo espaço com Salomé e surpreendentes as metáforas que Eugénio de Castro utiliza neste poema! Faz-se neste poema uma imagem de doçura extrema da Salomé, a mesma que, não rendida à impossibilidade de ter S. João Baptista, pede a sua cabeça como prenda de aniversário... numa bandeja!
Convido-vos à leitura!


Salomé

Grácil, curvada sôbre os feixes
De junco verde a que se apoia,
Salomé deita de comer aos peixes,
Que na piscina são relâmpagos de jóia.

Frechas de diamante, em fúrias luminosas,
Todos correm febris, ao cair das migalhas:
São rútilas batalhas
De pedras preciosas…

Como resplende a filha de Heródias,
Do seu jardim entre vermelhas flores!
Corre por tôda ela um suor de pedrarias,
Um murmurar de côres…
Sua faustosa túnica esplendente
É uma tarde de triunfo: em fundo côr de brasas,
Combatem fulvamente
Irradiantes tropéis d’áureos dragões com asas.
E sôbre as jóias, sôbre as llamas, sôbre o oiro,
Tão vivo bate o sol que a princesa franzina,
Ao debruçar-se mais, julga ver um tesoiro
A fulgurar, a arder no fundo da piscina…

Sai do jardim a infanta : o calor a sufoca,
Não pode mais sofrer do sol as ígneas setas…
Com um ramo de jasmins sacode as borboletas
Que lhe poisam na bôca…
Ei-la subindo a escadaria na luz dúbia
Que um velário Tamisa ; ei-la parando
Junto das jaulas, onde estão sonhando,
Como reis presos, os leões da Núbia…
Erguem-se irados os leões, ouvindo passos,
Mas, vendo Salomé, aplacam seu furor
E, em movimentos lassos,
Dão rugidos d’amor!

Fauces escancaradas,
Da túnica os dragões parecem defendê-la…
No entanto, Salomé, divinamente bela,
Pelas grades estende as mãos de prateadas,
Que os leões cheiram, em lânguidos delírios,
Julgando que são lírios…

A infanta vai subindo…
Esvelta e Esguia,
Num gesto musical que espalha mil perfumes,
Do favorito leão a juba acaricia…
E os outros leões rugem d’amor e de ciúmes…

Voan íbis no céu… e, erguendo-se, brilhantes,
Dos lagos onde nadam flor’s do Nilo,
Os repuxos cantantes
Aclamam Salomé que entra no peristilo…
Eugénio de Castro

quinta-feira, setembro 08, 2005

O poema e canção do momento!


A VIDA NÃO CHEGA (videoclip)


Dois lírios sobre a mesa
Uma janela aberta sobre o mar
Trago em mim uma certeza
De quem espera o teu voltar

Um cheirinho a café
Fotografias caídas pelo chão
E no ar uma canção
Traz-me uma recordação

Tenho tanto por dizer
Tanto por te contar
Que a vida não chega
Tenho o céu e tenho o mar
E tanto para te dar
Que a vida não chega

Tenho um poema escrito
Guardado num lugar perto do mar
Tenho o olhar no infinito
E suspiro devagar

O tempo aqui parou
Desde que te foste embora
Só a saudade ficou
Já não aguento tanta demora

Tenho tanto por dizer
Tanto por te contar
Que a vida não chega
Tenho o céu e tenho o mar
E sei que vou te amar
Para a eternidade…


Letra e musica de: Viviane

Sobre a morte e sobre a perda...


Li hoje:

"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."


Miguel Sousa Tavares... (a propósito da perda de sua Mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner)
Palavras para quê?
Novembro

O sabor dos derradeiros dias
Roda ainda na casa e pela rua
Folhas vermelhas gemem por morrer
Mas nós não nos lembramos

O inverno varre o céu e enche
O mundo inteiro de um sonho de vazio
Temos de estar sós e não ter nada
Horas sem fim na casa inabitada

Parece que partimos. Cada dia
Mais, profundo na noite se aprofunda
E nós queremos partir - todos os cantos
Empalidecem ao pé desta descida
Até às pedras geladas do silêncio

Olhamos à janela de olhos fitos
Longe a claridade além dos rios
Queremos ir com o vento com o perigo
Queremos a injustiça do castigo
Somos nós que a nós mesmos nos matamos
E com mais amor do que quando amamos
Sentimos sobre nós descer o frio
Sophia de Mello-Breyner

quarta-feira, setembro 07, 2005

Aniversário sobre a Morte de Juana "la Loca"

A rainha que inventou a greve de fome!


Foto: Pradilla Roriz

Este ano de 2005 está cheio de aniversários célebres!

2005 é o aníversário de Dom Quixote, da Morte de Catarina de Bragança, da Morte de Hans Christian Anderson, do Terramoto de Lisboa, da Morte de Joana a Louca, os 50 anos sobre o fim do Holocausto. Não procuro mais datas, pois não quero entrar em delirio e em leituras que não me cabem!

Queria assinalar a data da morte desta rainha que ficou com uma página negra na História, na minha opinião, de uma forma injusta.




Era filha dos Reis Católicos, Fernando e Isabel (que comemorou em 2004 o seu V centenário), e era a mãe de D. Catarina da Áustria, mulher de nosso D. João III, avó de D. Sebastião (D. Catarina reinou na sua menoridade com o cunhado D. Henrique).

É muito curiosa a sua a história pois a loucura que lhe foi atribuida parecia assaltá-la nos momentos em que de forma lúcida, Juana estava mais próxima da coroa de Aragão e Castela, reinos unificados desde seus pais. O testamento que D. Isabel lhe tinha deixado depois da sua morte não despertou nunca a sua vontade de reinar. Os seus dois irmãos tinham morrido, depois a sua mãe, e dias depois, aclamada rainha Dona Juana, morre o seu marido Felipe o Belo, Arquiduque da Áustria. Juana descobre que estava grávida... (nascimento de D. Catarina)

Permanecer na cidade onde o seu marido morrera tornava-se irrespirável para Juana. Ficou célebre a marcha que protagonizou com o cadáver de Felipe, no seu desejo de o sepultar em Granada. Juana, num cenário digno de filme, põe-se a caminho com os seus vassalos, frades franciscanos, damas e cavaleiros da corte, com tochas acesas, caminhando sempre de noite.

De noite, pois reconhecia que ao ficar viúva, o seu sol a tinha abandonado. Juana era extremamente apaixonada por Felipe. Felipe, embora apaixonado por Juana tinha frequentes encontros com um dama da corte de Bruxelas, a quem Juana surpreendeu um dia nos corredores do palácio, atirando-se a ela, tirando-lhe a cabeleira loira e provocando gritos a que todos acudiram. Este episódio valeu-lhe pesados insultos de Felipe e o agravamento da doença de Isabel em Espanha quando teve conhecimento dele.

Durante a célebre marcha, Juana quis abrir várias vezes o túmulo e beijar o seu marido. Conta-se que uma vez pararam junto de um convento para pedir abrigo e entraram. Quando Juana soube que se tratava de um convento de freiras e não de frades, ordenou que o seu séquito a seguisse para retomarem a marcha.

O seu pai acabou por governar espanha enquanto Carlos V, seu neto era menor. Assim tinha sido desejo de Dona Isabel caso Juana se revelasse incapaz de governar. Juana foi encarcerada num convento onde viveu 46 longos anos, morrendo com 73 anos.

Carlos V, seu filho, apenas a visitou uma vez no convento...

Foi Felipe II (neto de Juana) que cumpriu os votos de enterrar Felipe o Belo em Granada.

Para saber mais:

www.xs4all.nl/~kvenjb/madmonarchs/juana/juana_bio.htm

http://www.mujereshoy.com/secciones/3052.shtml


terça-feira, setembro 06, 2005

250 anos sobre o Terramoto de 1755



Vários eventos vão ter lugar até ao dia 4 de Novembro assinalando o 250 anos sobre o terramoto de 1755.
Por cá o Instituto de Ciências Sociais vai assinalar a data com um ciclo de conferências dignas de referência, que pode ser consultado neste link:
O Instituto e Museu Voltaire, em Genebra, junta-se a esta iniciativa mostrando o impacto que o terramoto de 1755 teve nos espíritos da época. O evento vai contar com uma exposição e com uma série de conferências que vão ter o seu momento alto no 1 de Novembro, dia em que vão estar presentes Isabel Alçada e Ana Magalhães, autoras do livro O dia do Terramoto. É bom não esquecer que o terramoto lançou uma crise de consciências no século da Razão e lançou o debate entre Voltaire e Rosseau. Portugal era um país extremamente católico e a Europa laica olhou com sarcasmo para o destino do nosso país... que parecia abandonado por Deus.
Para alguns esta catástrofe foi a morte de Deus!
Não podia deixar de colocar o célebre poema de Voltaire datado de 1756, (versão original)

segunda-feira, setembro 05, 2005

Félix Bermudes e a melhor tradução do "IF"


Foto: Rudyard Kipling

Está muito divulgada na internet uma versão brasileira de Guilherme de Almeida mas vejam se esta não é uma delicia! Foi Félix Bermudes quem traduziu em meados do sec XX. Intelectual, esoterista e filósofo a quem devemos esta obra prima que não fica atrás do original!

Se...

“Se podes conservar o teu bom senso e a calma
No mundo a delirar para quem o louco és tu...
Se podes crer em ti com toda a força de alma
Quando ninguém te crê...Se vais faminto e nu,

Trilhando sem revolta um rumo solitário...
Se à torva intolerância, à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bençãos de perdão...

Se podes dizer bem de quem te calunia...
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
(Mas sem a afectação de um santo que oficia
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)...

Se podes esperar sem fatigar a esperança...
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho...
Fazer do pensamento um arco de aliança,
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho...

Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores...
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo o amor dos teus amores...

Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste...

Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,
Voltares ao princípio a construir de novo...

Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,
Só exista a vontade a comandar avante...

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos...

Então, oh ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, o tempo e os espaços!...
Mas, ainda mais além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!...”


"If..." - RUDYARD KIPLING




Félix Bermudes, ao referir-se à leucemia que o acometia, diz poucos dias antes de morrer: "Estou vivendo uma experiência maravilhosa, fruto das colheitas enceleiradas na minha jornada de optimismo, respigando ensinamentos espirituais, através de uma longa existência sem vazios, nem desfalecimentos, sem descrenças."
Bermudes, Félix, "A conquista do eterno", Ed. Civilização Brasileira, 1974, pag. IX




Uma sátira de Nicolau Tolentino


Oleo de Blake Flynn
Chaves na mão, melena desgrenhada

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...»

- «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,

Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...

Nicolau Tolentino

Para saber mais:
http://web.ipn.pt/literatura/tolentin.htm
http://www.universal.pt/scripts/hlp/hlp.exe/artigo?cod=2_415

sábado, setembro 03, 2005

Al-Hamra


Ontem visitei Alhambra!

Leiam os contos de Alhambra e visitem este local... agora percebo a lenda do sultão Boabdil que caçava nas colinas de Granada e que quando soube da tomada de Alhambra (etim. "vermelha") não conteve as lágrimas. É célebre a frase que a esposa de Boabdil lhe dirigiu: "Chora agora como uma mulher a cidade que não soubeste defender como um homem."
Revolto-me a pensar que Napoleão (ou os seus Generais) mandaram explodir todos aqueles palácios... e que foi a sorte de haver para trás um soldado ferido que salvou alhambra da desgraça, desarmando todos os explosivos que a campanha deixara para trás!

Tive a sorte de lá ir passar dois dias para ver um espectáculo da companhia de Belgais (Maria João Pires) que é simplesmente mágico.

http://www.belgais.org/Microsite1/index.asp

O concerto foi à noite no atrium do Palácio do Imperador Carlos V (séc XV). A melhor pianista portuguesa tocou Debussy e Chopin acompanhada de dança contemporanea e teatro... não tem palavras.. em pleno recinto de Alhambra!

Não percam a visita! Há um hotel muito bom mesmo pertinho (Hotel Alixares ****) com uma vista estupenda!

sexta-feira, setembro 02, 2005

A sabedoria norte-americana




Conta-se que um aclamado engenheiro norte-americano que esteve envolvido no projecto da Ponte Salazar, fez parte do painel na cerimónia da sua inauguração!

Um português que estava também no painel referiu-se à curiosidade de a ponte Salazar estar situada numa zona chamada Alcântara que em àrabe significava: "A Ponte"!

O americano não se contém e intervém logo: " Como se os àrabes alguma vez tivessem chegado a Portugal!"

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