segunda-feira, outubro 31, 2005

Lá de Longe

Para ouvir Lá de Longe, carregar no link com o direito do rato e seleccionar Abrir numa nova janela

Vinha no vapor de Portimão a Lisboa quando passei os olhos numa cegonha pensativa, que do alto do seu ninho contemplava o horizonte.

Coitada da cegonha! Hoje é apenas um animal que conservamos por dever, órfã de atenção. Durante gerações, as crianças julgaram que ela os trouxera ao mundo, pelo laço de um lençol branco.

Adivinhei-lhe a tristeza naquela manhã de Domingo.


Tristes estão também as crianças.
A sinceridade ingénua dos pais, e a sua dificuldade em tratar o natural com imaginação, retirou-lhes o melhor da sua infância (têm agora uma noção mais útil, que os meninos nascem da barriga das mamãs e que é da semente dos papás que eles brotam!) Penso que a confusão era menor se a cegonha voltasse a trabalhar e os efeitos psicológicos não acho que fossem catastróficos. Mas é a evolução:

As raposas deixaram de ter romances e as lebres e as tartarugas fingem hoje que não se conhecem. Ao leão tiraram-lhe a coroa, pois era perigoso haver dois soberanos, e ninguém ouve mais o canto da cigarra.

Os animais fabulosos vivem hoje num mundo que ninguém evoca. Quantas crianças cresceram alimentadas pelo mágico, pela fantasia e este mágico e esta fantasia eram a única riqueza que possuíam, a única janela aberta para o mundo?

Acho que as nossas crianças vivem hoje mais pobres. As histórias que vêem na tv não passam de programas sem beleza e vazios de conteúdo.

Vivemos, segundo me explicaram, o princípio da democracia. Achámos que era errado inculcar valores nas crianças, - “que era coisa de outros tempos, do tempo do outro senhor”. Temos um ensino laico, novas pedagogias, crianças “melhor preparadas para a vida” e a fantasia e a mágica parecem-me ter sido filtradas na nova censura instalada.

Esquecemo-nos que as fábulas foram criadas para ajudar-nos, autênticas alegorias que são à boa convivência em sociedade.

Esquecemo-nos que elas nos acompanham desde o início do mundo, e que a história só é possível graças à magia, com a qual se liga muitas vezes.

As fábulas e a magia marcaram as grandes civilizações antigas, desde a Índia a Helas, de Bizâncio a Roma.

Será que as novas pedagogias não serão melhores se tiverem sentido histórico... ou estamos interessados em criar cidadãos desligados do seu passado histórico e mágico.

Deixo-vos a pergunta que quero ver reflectida:

Na nossa vida será tudo tão objectivo? Nunca deram conta, na vossa casa, de coisas que gnomos e duendes vos esconderam, apenas para brincarem connosco? Nunca deram com pardais a conversar com os periquitos da nossa varanda? Nunca viram uma nuvem com forma de coelho e tiveram a certeza que não era um acaso?

Enquanto não estivermos abertos para o outro mundo que vive a par do nosso, os seres que neles vivem vão fazer de tudo para nos chamar à atenção.

E as nossas crianças vão agradecer aos pais se lhes mostrarem o outro mundo... afinal, ele é muito melhor do que este que estamos a construir!

Percam um tempo e descubram no baú das memórias estas histórias. Tenho a certeza que será um momento rico para ambos! Aproveitem as inúmeras edições saídas pelo bicentenário de Christian Anderson e afastem estas cortinas pesadas do quarto dos vossos filhos!

sexta-feira, outubro 28, 2005

O quadro mistério de Isabel de Portugal

As crónicas falaram sempre da sua beleza.

O seu nome era Isabel (1503-1539).

Era filha de D. Manuel I e da sua segunda mulher, Maria de Aragão.

Casou com o homem mais poderoso da Europa - O Imperador Carlos V (filho de Joana, la loca).

Mas quando Isabel foi retratada por Tiziano já tinha morrido há 9 anos.

Carlos V, movido pela saudade imensa que tinha de Isabel, emprestou ao pintor um busto que havia da imperatriz no Palácio e foi através dele que Tiziano se inspirou! (Hoje esse busto está no Museu do Prado)


TIZIANO, "Isabel de Portugal" (1548), Museu do Prado.

Mas a tela que Tiziano utilizou para este retrato parece que não era nova...

Segundo Palma "O Jovem", aluno de Tiziano, o artista ia pintando quadros que deixava apoiados nas paredes do estúdio, virados para a parede.

Cada dia virava um deles e modificava-os. Por vezes, mais do que uma vez...

Tiziano, mestre da pintura renacentista, era um "arrependido" crónico e cobria muitas vezes as telas de outras pinturas.

As radiografias revelaram que debaixo do majestoso retrato de Isabel de Portugal há outra figura feminina que nada tem que ver com a rainha e que antes se parece com uma personagem mitológica.

Radiografia efectuada ao quadro em que se visualiza uma outra figura feminima por detrás de Isabel.

Carlos V, após a sua morte isolou-se no Mosteiro de Yuste donde dirigiu o Império até abdicar em nome de Felipe II.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Tocando em Frente

Já é tempo de parar um pouco e introduzir um conteúdo mais leve.

Podia quase ser uma rúbrica semanal de sons a escutar!

Há uma música linda que ouvi há anos cantada pela Maria Betânia que se chama Tocando em Frente.



Deixo-vos a Letra pois acho fascinante!



TOCANDO EM FRENTE

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei
E nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor para poder pulsar,
É preciso paz para poder sorrir
É preciso chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia, todo mundo chora
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz

Almir Sater e Renato Teixeira

terça-feira, outubro 25, 2005

A Caixa de Pandora

Zeus preparara uma supresa para os Homens. Ordenou a Hefesto que desse forma a uma mulher em argila. Quando Hefesto acabou, Zeus ordenou aos ventos que animassem aquela mulher (soprando-lhe vida, alma). Todas as deusas do Olimpo a adornaram com as melhores jóias. Era a mulher mais bela alguma vez criada, feita à imagem e semelhança das deusas. Mas a sua beleza era superada pela sua malícia e os seus frequentes conflitos. Quando estava preparada foi enviada ao mundo dos homens para casar-se com Epimeteo, irmão de Prometeu.
Apesar das advertências de Prometeu para que não aceitasse nenhuma oferta de Zeus, Epimeteo não o tomou a sério e ficou tão fascinado pela beleza de Pandora que se casou de imediato com ela, convertendo-a na primeira esposa humana.

A caixa de Pandora, (Waterhouse)

Mas Zeus ainda não terminara o seu plano... mediante palavras meigas alimentou a curiosidade de Pandora por uma caixa que se encontrava em casa de Epimeteo. A curiosidade foi mais forte que a prudência e Pandora abriu a caixa. Dela sairam todos os males que podiam afectar a Humanidade: a doença, a fadiga, a velhice, a loucura, o vicio e a paixão.


Pandora (Dante Gabriel Rossetti, 1869)
Todas elas saíram sob a forma de uma nuvem do interior do recipiente e extenderam-se pelo mundo dos homens. Por sorte, em seu interior também estava a esperança, sem a qual os homens se teriam todos suicidado, fustigados por esta torrente de desgraças.

A caixa de Pandora (Postal Russo)

segunda-feira, outubro 24, 2005

As cinco idades do Homem na Grécia Antiga

Pormenor da Criação de Miguel Angelo, Capela Sistina (Perspectiva Cristã)


Segundo a mitologia grega, não houve criação do Homem por parte de qualquer divindade. Aquele surgiu espontaneamente da Gea e passou por cinco idades: Idade do Ouro, Idade da Prata, duas Idades do Bronze e uma Idade do Ferro.


Na Idade do Ouro viviam sem preocupações e sem necessidade de trabalhar. Tinham toda a comida que precisavam ao seu alcance, dançavam e divertiam-se imenso. Não envelheciam nunca. Estes homens haviam desaparecido mas os seus espíritos continuavam presentes, bafejando os mortais com a sorte e zelando pela justiça.


The dream of Human Life, Miguel Angelo


Depois veio a Idade da Prata, em que os homens se viram submetidos à vontade maternal, a quem jamais desobedeciam ou contrariavam. Eram ignorantes e não faziam sacrifícios aos deuses, motivo pelo qual Zeus os destruiu.

Em seu lugar vieram os homens da Idade do Bronze. Tinham armas deste metal. Eram cruéis e insolentes, instalando várias vezes a guerra entre eles. Uma peste terminou com esta fase da Idade do Bronze.

A segunda fase da Idade do Bronze trouxe consigo homens mais nobres e generosos, pois foram concebidos pelos deuses e mães mortais. Foram estes que lutaram gloriosamente em Tebas, na expedição dos argonautas e na guerra de Tróia. Pelos seus feitos, foram convertidos em heróis e ao morrer habitaram os jardins Elíseos.

Os seus descendentes deram lugar à Idade do Ferro, a última de todas e que os deuses consideravam a mais perfeita. Mas a imagem que os homens tinham de si mesmos não era a melhor. Consideravam-se indignos descendentes dos heróis, e além disso, eram cruéis, injustos e maliciosos.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Das três Graças ao longo da História


A Primavera, Sandro Botticelli, 1482
(Repare-se na inclusão das 3 Graças do lado esquerdo)


Zeus nunca foi fiel a Afrodite. Mantinha relacionamentos com inúmeras mulheres e ninfas.
Uma dessas ninfas, Eurínome, deu à luz três graças, Aglae (a mais brilhante), Eufrosine (a que alegra o coração) e Tália (que faz florescer).

Hesíodo (sécs. VIII ou VII a.C.)descreve de forma surpreendente a beleza de Tália: "dos olhos onde brilhavam seus olhares brotava o amor que rompe os membros; o olhar é tão belo que brilha sob suas sobrancelhas”.

Estas acompanhavam Afrodite como damas de companhia. Foram chamadas também de Cáritas, representando a alegria e a beleza fértil.

O heleno Hesíodo catalogou as três filhas de Zeus com Eurínome em sua Teogonia. Inicialmente presidiam todos os prazeres humanos, sendo assim retratadas por Rafael (1483-1520).


As três graças, Rafael, 1505 (500 anos de aniversário)


Com o tempo, passaram também a representar a conversação e os trabalhos do espírito e sob essa concepção foram pintadas por Rubens (1577-1640) como as virtudes do saber, dar e receber. Seus símbolos eram a rosa, o ramo de mirto e um par de dados. Na Idade Média, as três artes liberais básicas nas universidades –gramática, retórica e lógica, o chamado trivium– estavam a elas relacionadas.

As três graças, Rubens

No séc. XIX durante um período romântico houve inúmeras alusões ao tema sob várias técnicas que se prolongaram até inícios do séc. XX Muitos arquitectos colocaram representações das 3 graças nas fachadas dos edifícios. Encontramo-las facilmente em Barcelona, e em estilo Português Suave (Estado Novo) com frequência em Alvalade, Av. Roma, Areeiro. Segue uma representação em escultura que ajudará a identificar aquilo a que me refiro.

Fragmento de escultura de mármore do Período Greco-Romano baseada em pintura grega helenística. Data do original: séc. -II. Siena, Piccolomini Library.

quinta-feira, outubro 20, 2005

O átomo é o embrião da inteligência por Maria

Queria hoje recomendar um artigo do site Fundação Maitreya e que me parece tanto curioso como extraordinário! Este artigo é um resultado de experiências espirituais profundas pela prática da meditação.

Aqui fica um aperitivo que não dispensa a leitura do artigo completo!

"Sendo o átomo inteligência, obviamente, ele é a fonte da criatividade. Assim, a capacidade da mente humana é infinita, sempre sensível a novas descobertas, aberta a inspirações desconhecidas – isto é o fascínio da vida humana – uma fonte inesgotável de aprendizagem e de saber, criando constantemente milhões de probabilidades e novas realidades." (...)

"Reportemo-nos à mecânica Quântica, que nos diz que ao observar-se o átomo (princípio inteligente) ele reage à mente do observador. Sendo assim, o Universo, enquanto também substância mental, interage com a mente humana." (...)

"A espiritualidade, ou o avanço no caminho da perfeição (leia-se evolução), confere à mente refinamento e claridade." (...)

"A raiz da vida inteligente encontra-se em cada gota de água, em cada raio do sol, em cada alento (respiração) do ar, em cada broto de semente da terra." (...)

Obrigado Maria!

terça-feira, outubro 18, 2005

Danças do Mundo na Gulbenkian



Para os apreciadores de música e dança indiana, a Fundação Calouste Gulbenkian vai presentear Lisboa com um espectáculo de dança Clássica do Sul da Índia que não devem perder.

O ano passado contámos com a Companhia de Aditi Mangaldas na Aula Magna. Este ano vamos ter a presença de Shantala Shivalingappa. A actuação será no dia 25 de Outubro, pelas 21 horas.



Dica: as senhoras e senhores que tiverem fatos indianos podem tirá-los do baú pois nestes espectáculos costuma-se vestir a rigor!

Os preços são convidativos: 10€ - balcão; 17€ - 2ª Plateia; 20€ - 1ª Plateia. (descontos de 30% para jovens até 25 anos e jovens com mais de 65 anos!)

Quem quiser espreitar o sítio desta artista indiana, clique aqui!


fundação calouste gulbenkian
Av. de Berna, 45A. Tel.: 217 823 000
Danças do Mundo


Shantala Shivalingappa - Dança e Direcção Artística.
J. Ramesh - voz.
B. P. Haribabu - percussões
M. S. Sukhi - címbalos
K. S. Jayaram - flauta
“Kuchipudi” – Dança clássica do Sul da Índia
25 de Outubro - 21h

segunda-feira, outubro 17, 2005

Parábola de um tempo distante


A Vida surgiu com um “Sim”.
O sim de uma Vontade ou o sim de uma molécula para a outra.
Esse sim permitiu tudo o resto e não tardou a surgir o Não.
A dualidade transformou os habitantes da Primeira Era. Ficaram confusos. Passaram séculos a tentar regressar ao absoluto, ao uno, ao vero.

Procuraram no Universo, na Terra, na Água e em Si próprios um princípio que tudo regesse. Julgaram que tinham chegado a ele. Não sabiam se haviam de escrever “ele” ou “Ele”. Imaginavam apenas que era um único princípio. Então travaram guerras, derramaram sangue, destruíram impérios, impondo a forma de se referir a “Ele”. Estavam dispostos a morrer e a matar por este princípio que pensavam ter descoberto.
Tinham a chave da compreensão da Vida.

Construíram o mundo que achavam perfeito: que obedecia a princípios perfeitos e para que perdurasse no tempo, criaram os filhos segundo modelos perfeitos. Estimularam neles a inteligência, a criatividade, as boas maneiras, e o respeito pelos outros e principalmente por esse Princípio.

Então seguiram pela estrada dos séculos: a sociedade perfeita. Conseguiram que todos tivessem as condições para serem felizes. Mas a par disso começaram a construir um muro entre aqueles que o conseguiam e os que não conseguiam. Surgiu um muro alto entre a felicidade e a infelicidade, entre os pobres e os ricos, entre a fé e a descrença.

Torre de Babel, Pieter Bruegel, o Velho


Esses muros eram legais. Não atravessavam nenhum Estado, nenhum rio, nem nenhum deserto. Estavam enraizados na humanidade, qualidade de ser humano.

Impediam-lhes de ver a pobreza, de ver a tristeza e o sofrimento e mantinham-nos num mundo seguro, aquele que tinham criado com tanta dedicação. Viviam uns ao lado dos outros, trabalhavam lado a lado e viajavam juntos diariamente. Mas não sabiam que alguns deles atravessavam todos os dias aquele muro.

Alguns diziam já que o muro de tão alto podia ser ameaçador. Mas continuaram a elevá-lo. Não ligaram às críticas dos poetas e dos filósofos e acusaram-nos de loucos.

O verdadeiro princípio tinha sido esquecido há muito. Não foram capazes de ver que nunca o tinham posto em prática, que impuseram normas conforme as necessidades, adaptando-as aos interesses daqueles que viviam no lado oficial do muro. E debateram-se até ao final por um Princípio que não existia levando os habitantes da Primeira Era à extinção.

Querem fazer parte de uma segunda Era ou querem mudar o rumo desta para o caso de ser a única?

Pensem nisso! Siddichandra

terça-feira, outubro 11, 2005

Homenagem de Rabindranath Tagore a Xah Jahan


Tagore foi distinguido em 1913 com um Prémio Nobel da Literatura.
A sua obra é extensa e espraia-se quer pela Poesia como pela Prosa.
A Assírio e Alvim lançou em Junho de 2004, um compilação de poesia de Rabindranath (Senhor do Sol). Não encontrei na internet a tradução deste poema para português. Como é um dos meus preferidos: aqui têm!
Deixo aqui a homenagem que este poeta deixou ao sonhador Xah Jahan, imperador da dinastia Moghul que reinou a India de 1587 até 1752. O mesmo imperador que compôs na pedra uma sinfonia em homenagem eterna à sua Mumtaz - o Taj Mahal.
Gravura da Mumtaz
O Taj Mahal foi construído com materiais de toda a Índia e da restante Ásia. Mais de 1,000 elefantes foram utilizados para transportar os materiais de construção. O mármore branco foi trazido do Rajastão, o jaspe do Punjab e jade e cristal da China. A turqueza foi trazida do Tibete e Lapis Lazuli do Afeganistão, enquanto as safiras vieram do Sri Lanka e a Carnelia da Arábia. Ao todo, foram utilizados 28 tipos de pedras preciosas e semi-preciosas, embutidas no mármore branco. A construção pesou ao erário régio 40 milhões de rupías, numa altura em que 1 grama de ouro era vendida por cerca de 1.3 rupías.

Xah-Jahan


Xah-Jahan

Tu sabias, Xah Jahan, imperador da Índia,
Que a vida, a juventude, a riqueza, o renome
Tudo se esfumará na corrente do tempo.
O teu único sonho
Era preservar eternamente a dor do teu coração.
O alto estrondo do poder imperial
Desvanecer-se-ia no sono
Como o esplendor carmesim do poente,
Mas tinhas a esperança
De que pelo menos um simples e eterno suspiro atormentasse o céu.
Embora as esmeraldas, os rubis, as pérolas sejam tudo
Excepto o brilho de um arco-iris adornando o ar
E morrendo,
Uma solitária lágrima
Ficaria suspensa na face do tempo
Sob a forma
Deste branco e cintilante Taj Mahal.

Ó coração humano
Tu não tens tempo
Para voltar a olhar para alguém,
Não tens tempo.
És conduzido pela rápida inundação
De aqui para ali, de terra para terra,
Carregando aqui,
Descarregando ali.
No teu jardim, os murmúrios do vento do Sul
Hão-de levar-te as trepadeiras madhabi
A encherem subitamente de flores o teu regaço trémulo –
As suas pétalas estão espalhadas na poeira do crepúsculo.
Não tens tempo –
Ergues-te do orvalho de outra noite
Com as frescas flores dos teus pequenos bosques,
O novo jasmim que
Veste com lágrimas de alegria a votiva bandeja
De uma estação tardía.
Ó coração humano,
Tudo o que acumulaste está por terra
Atirado para a beira do caminho no fim de cada noite e de cada dia.
Não tens tempo para voltar para trás,
Não tens tempo, não tens tempo.

Por isso, Imperador, desejavas,
Receando o esquecimento do teu próprio coração,
Conquistar o coração do tempo
Com a beleza.
Que maravilhosas são as vestes imortais
Com as quais vestiste
A informe morte – como estava coroada!
Não podias manter
Para sempre a tua dor, por isso enredaste
O teu interminável pranto
Em feixes de silenciosa perenidade.

Os homens que suavemente
Sussuraste ao teu amor
Em noites de luar em secretos aposentos
Estão aqui
Como se fossem sussurros ao ouvido da eternidade.
A pungente delicadeza do amor
Floresceu na beleza da serena pedra.

Imperador-poeta,
Este é o retrato do teu coração,
O teu novo Meghaduta,
Elevando-se nos ares com maravilhosa e única melodia,
Com versos sem precedentes,
Em direção à invisível planície
Onde a tua amada
E o primeiro raio de sol nascente
E o último suspiro do sol poente
E a incorpórea beleza da flor cameli do luar
E o portão à entrada da linguagem
Que afasta sempre o ansioso olhar do homem
Se misturam.
Esta beleza é o teu mensageiro,
As sentinelas do tempo
Que levam a silenciosa mensagem:
«Eu não te esqueci, meu amor, eu não te esqueci!»

Já te foste embora, Imperador –
O teu império desfez-se como um sonho,
O teu trono também,
Os teus exércitos, cuja marcha
Fazia estremecer a terra,
Hoje não pesam mais do que a poeira levantada pelo
Vento na estrada para Deli.

Os teus cantores já não cantam para ti;
Os teus músicos já não encadeiam as suas melodias
Com o Jumara no colo.
O som das pulseiras nos tornozelos das tuas mulheres
Morreu nos teus palácios:
O céu nocturno lamenta-se
Com o ruído
Dos grilos nos seus cantos esburacados.
Mas o teu incansável e incorruptível mensageiro,
Que despreza a ascensão e a queda da vida e da morte,
Profere
Ao longo das eras
A mesma e contínua mensagem do eterno lamento:
«Eu não te esqueci, meu amor, eu não te esqueci.»


Mentiras! Mentiras! Quem diz que não esqueceste?
Quem diz que não abriste violentamente
O cofre que guarda a memória?
Que mesmo hoje o teu coração se afasta
Da eterna escuridão
Da história?
Que mesmo hoje não se escapou pelo livre caminho
Do esquecimento?

Os túmulos permanecem sempre com o pó da terra:
É a morte
O que cuidadosamente preservam num cofre da memória.
Mas quem pode guardar a vida?
As estrelas reclamam-na: chamam-na para o céu,
Convidam-na para novos mundos, para luz
Das novas auroras.
Ela quebra
O laço da memória e corre
Livremente ao longo dos caminhos universais.
Imperador, nenhum império terreno podia guardar-te:
Nem sequer todo
O mundo natural do retumbante oceano podia ouvir-te.

E assim
Quando a commedia da tua vida ficou completa
Deste um pontapé neste mundo
Como se fosse um cântaro de barro usado.
És maior do que a tua fama: mais e mais dela é atirado
Da carruagem da tua alma
Em plena viagem:
As tuas relíquias jazem aqui, mas tu já te foste embora.
O que não se podia mover nem levar,
O amor que bloqueou a sua própria estrada
Com o seu grande trono
Não podia agarrar-se a ti mais do que o pó do caminho aos teus pés
Apesar da sua íntima doçura -
E assim
O devolveste ao pó atrás de ti,
E a semente da dor,
Soprada pelo sentir do teu coração,
Caiu da grinalda da tua vida.
Viajaste para longe:
A planta imortal cresceu
Dessa semente para encontrar o céu
Fala-nos agora com sombria melodia -
«Olha, apesar da distância,
Aquele viajante que já não está aqui, que já não está aqui,
A sua amada não o guardou,
Os seus reinos libertaram-no,
Nem o ar nem a montanha o podiam prender.
Hoje a sua carruagem
Viaja pelo regato da noite
Para a canção das estrelas
Para o portão da aurora.
Eu continuo aqui com o peso da memória:
Ele está livre de fardos; ele já não está aqui.»


Trad. José Agostinho Baptista

segunda-feira, outubro 10, 2005

"Tabacarias" de Lisboa e de Pessoa

Fernando Pessoa, por Luís Badosa


As tabacarias são locais de encontro: de pessoas, de culturas, de opiniões, de debates. Como homenagem às tabacarias de Lisboa e pelo papel que têm tido na expressão da nossa cultura, Pessoa dedicou-lhes este poema, considerado por muitos como o melhor poema do séc. XX.



TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho genios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei que moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheco-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos

Fantástico!!

sexta-feira, outubro 07, 2005

Canção do momento - Luiza

Gostaria de partilhar convosco uma música que escuto com frequência.

Foi uma das primeiras músicas de Tom Jobim compôs. Dedicou-a à sua filha Luiza.

Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer, Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar,
Luiza
Luiza

quinta-feira, outubro 06, 2005

Desabafo


Hoje o meu dia está cinzento como este quadro de Van Gogh!
Se ao menos descobrisse uns fósforos e pudesse acender aqueles candeeiros do meu caminho...
Sei que a escuridão deste dia faz com que melhor aprecie a luz do que vem... mas não deixa de custar a passar!
Que necessidade sentirá o homem de se entristecer, como se fosse um poço... mas o mais fundo, o mais sombrio é também aquele que se enche de mais água, o mais fértil! penso assim...

É uma pena que não veja este dia de sol em pleno outono... sim! afinal há outono: eu vivo-o hoje!
Sinto que este é o primeiro texto realmente meu: como cada hora deste dia, cada minuto, cada palavra...

Não devo ser o primeiro a sentir esta sensação, o primeiro pintor colocou o cinzento no meio das outras cores, no meio dos outros dias e chamou-lhe... cor morta... eu chamo-lhe cor viva! é apenas a quarta feira que segue o carnaval...

terça-feira, outubro 04, 2005

Teseu e o Minotauro

Teseu era um grande herói de Atenas.

Sabe-se que era filho de Etra mas o seu pai pode ser Egeu ou Poseidon, pois Etra gozou na mesma noite da companhia de ambos. Egeo disse nessa mesma noite a Etra que se nascesse algum filho daquela relação não lhe pusesse o seu nome. Deixaria, sob uma rocha, umas sandálias e uma espada, para que o jovem pudesse saber quem era o seu pai.

Teseu cresceu secretamente em Trécen, criado pela sua mãe. Aos 16 anos, a sua mãe disse-lhe que seu pai era Egeu. Teseu, movido pelo desejo de conhecê-lo, pôs-se a caminho de Atenas.
Egeu tinha-se aliado, entretanto, a Medeia. Esta, ao ver Teseu reconheceu-o como um perigo pois ameaçava a legitimidade do seu filho, até ali único herdeiro de Egeu.
Convenceu então Egeu que Teseu era um espião e planeou envenená-lo, mas Egeu viu a espada que Teseu transportava e reconheceu-o como filho, ordenando que se festejasse por toda a cidade de Atenas aquele acontecimento.

Minos, rei de Creta, querendo vingar a morte de seu filho Androgeo, ordenava que todos os anos viessem de Atenas 7 donzelas e 7 rapazes para se imolarem, entregando-se ao Minotauro, um ser metade homem e metade touro que vivia num labirinto. Teseu, ao saber de tamanha injustiça ofereceu-se para se juntar aos 13 desafortunados que iam sacrificar-se em Creta.
Minos, ao receber os 14 jovens, enamorou-se por uma das donzelas, possuindo-a aos olhos de todos, comportamento que Teseu recriminou. O seu dever, como filho de Poseidon, era proteger as virgens dos ultrajes dos homens. Minos riu-se desta intervenção, replicando que nunca Poseidon tinha sido delicado com as virgens que possuíra.
Teseu mergulhou no mar, escoltado por golfinhos em direcção ao palácio das Nereidas. Aí, Tétis ofereceu-lhe uma coroa, que mais tarde levaria Ariadne. Esta era filha de Minos e apaixonou-se imediatamente por Teseu, prometendo-lhe ajudar a matar o Minotauro, desde que Teseu a levasse para Atenas e a coroasse sua esposa.

Este contrato foi decisivo para Teseu. Dédalo, autor do labirinto, oferecera a Ariadne um novelo de fio mágico e explicara-lhe como entrar e sair do labirinto. Ariadne ofereceu este novelo a Teseu e pediu-lhe que atasse a ponta na porta do labirinto não se separando nunca da outra ponta. Chegando ao leito do Minotauro, Teseu matou-o, não se sabendo se com as próprias mãos, se com uma espada que Ariadne lhe teria dado para o efeito.
Fresco sobre o famoso Touro de Creta

Terminada a sua tarefa, Teseu saiu do labrinto, seguindo o fio que desenrolara. Ariadne estava à sua espera. Conduziu-o até junto dos 13 jovens atenienses e embarcaram na penumbra afastando-se de Creta. Esperava-os, contudo, uma armada mas a escuridão era tal que conseguiram escapar à mão de Minos.
Ao desembarcar em Naxos, deu-se um episódio ainda por explicar. Teseu abandonou Ariadne na praia enquanto dormia e embarcou para Delos. Dizem uns que Teseu receava chegar a Atenas com a filha do rei de Creta, outros que Teseu se apaixonara por outra mulher e há ainda quem diga que Dionísio lhe aparecera em sonhos nessa noite e pedira Ariadne em sacrifício.

Sir Lawrence Alma Tadema - Expectations

Teseu tinha prometido a Egeu que voltaria a Atenas içando velas brancas em sinal de vitória, pondo fim às velas negras que transportavam os jovens oferecidos em sacrifício. Porém, Teseu esqueceu-se deste sinal, e quando Egeu o avistou do alto da Acrópole içando as velas escuras, pensou o pior e afogado em mágoa, despenhou-se do alto do monte sagrado ao mar que ainda hoje conserva o seu nome!

Adap. de Mitologia Griega Y Romana de Susana Cañuelo e Jordi Ferrer, Optima, Barcelona, 2003.

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