terça-feira, novembro 08, 2005

Um paraíso terrestre

Um paraíso terrestre - Sir Lawrence Alma Tadema

A mãe perguntou-lhe no meio da discussão:

«E tu, filho, tu gostas de ti?»

Ele respondeu com determinação:

«Sim. Não houve um único momento na minha vida em que tenha desejado ser outro que não eu. »

Viu um sorriso esboçado no rosto da mãe.

Passaram dias, meses, talvez um ano.
Passou o tempo necessário para que percebesse porque é que gostava de si.

O amor que tinha para se dar era o amor que sua mãe lhe dera noutros tempos. Tinha sido amado como se fosse o único, num ambiente de luz e de conforto, amparado por suas finas mãos de prata, em escalas de música sacra. A sua infância tinha sido o prolongamento do útero materno, onde jamais sentira frio ou insegurança. Esse amor nunca se dissipara em movimentos vãos. Permaneceu nele como misteriosa força, florescendo a cada instante, amparando os baixos que a vida lhe mostrara. Cada dia da sua adultícia era uma nova folha que preenchia com sons que ninguém escutava mas que todos sentiam. Alegrou-se ao realizar tudo isto e pensou então dar essa notícia à sua mãe. Sentou-se na sua velha secretária de madeira pisada pela força com que escrevia e compôs a sua melodia.

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